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CNC registra aumento no número de famílias endividadas no Brasil

O indicador mostrou a maior proporção desde o início da série histórica



A conta pós início de quarentena ainda nem chegou e o percentual de famílias com dívidas (que inclui cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro) alcançou a maior proporção desde 2010: 66,2%, com aumentou de 0,9 p.p. em relação ao mês anterior e de 3,8 p.p. relativos ao mesmo período de 2019, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio. Como consequência, acredita-se que a elevação do endividamento reflete condições mais favoráveis no mercado de crédito ao consumidor, com a significativa diminuição das taxas de juros, a qual contribuiu para a redução do custo do crédito. Esse cenário, que estava impulsionado pela suave melhora da economia até então, certamente se intensificará nas próximas publicações, em função da crise do coronavírus.


Em detalhes, todos os subindicadores exibiram o crescimento no endividamento. Para as famílias com renda até dez salários mínimos, o percentual cresceu de 66,0% em fevereiro para 67,1% em março, frente a 63,5% observados em março de 2019. Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, o percentual passou de 61,1% para 62,2% no mesmo período, sendo que, em março de 2019, a proporção nesta faixa de renda era de 58,3%. Considerando aqueles com renda até dez salários mínimos, o percentual de famílias sem condições de honrar os seus compromissos passou de 11,3% em fevereiro para 11,9% em março de 2020 (+0,9 p.p. anual). Na faixa superior, o indicador alcançou 3,8% neste março, na comparação com 3,6% registrado fevereiro (+0,3 p.p. anual). Em relação à capacidade de pagamento, a parcela média da renda comprometida com dívidas alcançou 30% da renda, sendo que 21,2% afirma ter mais da metade de sua renda mensal destinada ao pagamento desses passivos. Embora o cartão de crédito siga apontado em primeiro lugar dos principais tipos de dívida por 78,4% das famílias endividadas, ele tem cedido espaço para carnês, crédito consignado e pessoal.


De acordo com o estudo e com as incertezas sobre o futuro, a injeção de liquidez que está sendo promovida tende a corroborar para o aumento do endividamento das famílias. Nesse sentido, dada a relevante quantidade de famílias nessa situação, mostra-se muito importante buscar alternativas para sair da inércia, com o intuito de viabilizar prazos mais longos para os pagamentos ou alongamentos das dívidas, e mitigar o risco de crédito. Assim, é válido destacar que as pessoas podem fazer uso dos instrumentos de negociação, como o Serasa Consumidor, ou mesmo buscar os seus credores diretamente. Também é válido mencionar que, de acordo com o levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo Serviço de Proteção ao Crédito do Brasil, 4 em cada 10 brasileiros se encontravam negativados em fevereiro, o que corresponde a 60,8 milhões de brasileiros adultos, devendo em média R$ 3.257,80, cujo pouco mais de 1/3 detinha dívidas com valor de até R$ 500, e 52,68% com pendências de até R$ 1.000, concentradas no setor bancário (52,69%), comércio (17,49%) e comunicações (11,94%).


Essa situação reforça ainda mais a importância de um boa educação financeira, a qual responde justamente à dificuldade de gerenciar melhor os recursos que se tem, e estimular a realização da reserva financeira, dado que metade dos brasileiros (52,1%) não tem sequer o hábito de poupar (CNDL/SPC Brasil, 2020), seja para se proteger contra imprevistos ou para aproveitar oportunidades. Lembre-se que eu não estou falando do dinheiro que resta, mas sim sobre criar um compromisso de segurança consigo e sua família, no qual você destinará um pedacinho da sua receita para guardar logo no recebimento, costume de apenas 33,8% dos pesquisados.


Para finalizar o reporte, agora pensando na parcela da população que consegue guardar algum dinheiro, o estudo revelou que 34% dessas pessoas costumam fazer reserva financeira, sendo que 62% aplica na poupança e 27% prefere deixar as economias em casa, demonstrando a falta de conhecimento do brasileiro no que diz respeito à gestão financeira. Além destes, há ainda os que mantém o dinheiro na conta corrente (23,1%). Os investimentos propriamente ditos como fundos de investimento foram citados por apenas 6,5%, seguidos por Tesouro Direto, ações da bolsa de valores e CDB (4,7%). E mais, é frequente que preceitos financeiros – ou seja, achismos os quais nos são ensinados quase como dogmas – orientem as nossas decisões nesta seara. Isto fica evidente quando a pesquisa aponta que 29,9% considera que, devido o valor “baixo”, não valeria a pena aplicar o montante numa corretora – cedendo à velha crença de que investir é para ricos. Outros 28,7% querem evitar o pagamento de taxas (tal argumento não procede pois você tem opções de pacotes básicos sem nenhuma tarifa), 24,1% acredita ser mais seguro estar com o dinheiro em casa (deixando o dinheiro ser corroído pela inflação) e 11,5% citou o mede de um novo confisco da poupança (como ocorrido em 1990) – memória de insegurança. Saiba que você pode fazer melhores escolhas financeiras com qualquer quantia, basta para isso buscar informações e auxílio.



Elinne Val é economista/UnB, pesquisadora e mestranda em Economia/Unifal-MG e planejadora financeira.


 
 
 

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