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Mesmo batendo recordes, a produção agrícola do Piauí tem espaço para crescer

Saiba três formas como a tecnologia pode ajudar a produção - uma revisão do Fórum Econômico Mundial


Imagem: reprodução WIX


Foi o advento da agricultura e do controle da produção que permitiu ao homem se fixar na terra e estabelecer propriedade privada, dando os primeiros passos para a formação da economia. Isto fez com que a população crescesse exponencialmente, explodindo durante a industrialização. Como consequência, o modelo atual de agricultura vem testando os limites dos recursos ambientais. Isso requer maior investimento e adoção de tecnologia de aumento de produtividade e participação de jovens e pequenos agricultores.

Diante do aumento da vulnerabilidade social e econômica, intensificada com as crises recentes, a produção agrícola precisa se tornar mais produtiva e sustentável, reduzindo o desperdício e o impacto climático e no meio ambiente. A atividade primária causa cerca de 23% das emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo homem e usa até 92% da água doce do mundo. Além disso, de acordo com um relatório do WWF e da Tesco, cerca de 40% dos alimentos cultivados não são consumidos.

Assim, novos paradigmas surgem e o Fórum Econômico Mundial destacou três formas para impulsionar a produção do setor.

A criatividade humana, os avanços científicos e tecnológicos deram ao mundo um conjunto sem precedentes de ferramentas para transformar o sistema alimentar e mitigar seu impacto na natureza e no clima. Há pesquisas que indicam que ferramentas digitais agrotecnológicas impulsionam colheitas para agricultores e são capazes de reduzir o impacto climático da agricultura em 30%.

Na agricultura de precisão, a previsão do tempo em tempo real ajuda os agricultores nas decisões sobre quando e quanto irrigar, fertilizar e aplicar pesticidas em suas plantações. Algumas estufas inteligentes são totalmente automatizadas e garantem condições ideais para o crescimento das plantas, ajustando insumos como ventilação do telhado, iluminação artificial e aquecimento.

Imagens de ultra-resolução podem detectar sintomas precoces de doenças, estresse hídrico e degradação do solo, enquanto os drones pulverizam fertilizantes, pesticidas e água com precisão. Ao reduzir as suposições na agricultura, a agricultura inteligente permite que as culturas atinjam todo o seu potencial genético sem o uso excessivo de insumos químicos.

A biotecnologia é outro campo que continua a fazer avanços. Os avanços na ciência das sementes estão tornando as culturas mais resistentes à seca, pragas e infestações, aumentando a produtividade agrícola e aumentando a resiliência dos produtores de alimentos aos choques ambientais.

Além de aumentar a capacidade de produzir mais alimentos usando menos recursos, o desperdício e perda de alimentos também precisa ser reduzido. Os alimentos são perdidos e desperdiçados em cada estágio da cadeia de suprimentos de alimentos, desde a colheita até o armazenamento e o transporte, e depois no varejista e no consumidor final.

Em resposta, aumentar a digitalização da agricultura melhora a eficiência geral de todo o sistema agroalimentar. Os mercados online conectam os agricultores diretamente aos consumidores, reduzindo o número de intermediários e problemas logísticos pelos quais os alimentos devem passar. Isso não apenas aumenta a renda dos agricultores, mas também reduz o tempo gasto no trânsito, reduzindo a quantidade de perdas e desperdícios.

Os agricultores precisam adotar tecnologia agrícola, principalmente os pequenos produtores. Cinco de cada seis fazendas no mundo têm menos de dois hectares e coletivamente produzem um terço dos alimentos do mundo. Muitos desses pequenos agricultores receberam menos educação formal do que os empresários do agrobusiness, dificultando a adoção de tecnologia sem apoio.

Para ter uma ideia, no Piauí, o agronegócio deve ser responsável por apenas 12,4% do feijão produzido no estado, cerca de 12 mil toneladas, conforme a expectativa para a safra 2022. Quanto ao arroz, somente 35,9% da produção deve ser oriunda do agronegócio, o equivalente a 23,6 mil toneladas, reforçando a importância de apoiar os pequenos produtores.

A disponibilidade e acessibilidade da infraestrutura da Internet também é uma barreira potencial relevante. O Fórum também sugere envolver e incentivar mais jovens a adotar a agricultura – seja por meio da ciência ou empreendedores – conduz a mais inovação e mais ideias.

Neste contexto, vale a pena dar uma olhada no desempenho do Piauí. De acordo com o Levantamento Sistemático da Safra Agrícola (LSPA), divulgado pelo IBGE, referente ao mês de janeiro, o Piauí deve atingir novo recorde de produção de grãos em 2022, de aproximadamente 6 milhões de toneladas.

O crescimento esperado é de 19,1% em relação à 2021 e quase todas as culturas devem apresentar aumento de volume em 2022, com exceção do arroz, que deve sofrer redução de 10,2% em relação ao produzido em 2021, por opção dos produtores do agronegócio face o baixo retorno com esta cultura e pelas exigências hídricas desta cultura.

O principal responsável pelo aumento no volume da produção de grãos é o milho, cuja expectativa de crescimento é de 27,2%. A soja também deve ter aumento de produção em 2022, da ordem de 12,1%. Juntos, milho e soja representam 95,8% do volume total de grãos do Piauí. É interessante notar, adicionalmente, o crescimento da produção do feijão, que se dará por um incremento de produtividade, sendo esperado praticamente o dobro do volume produzido em 2021 (88,3% ao ano), com um crescimento de apenas 4,4% na área plantada. O motivo seria a retomada ao patamar histórico de produção com a regularidade do período de chuvas e, não inovação tecnológica.


Elinne Val é economista e mestre em Economia.

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