O que a crise do coronavírus nos ensina sobre finanças pessoais?
- Elinne Val
- 16 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Toda a sociedade impactada, mas aqueles que se precaveram sairão ilesos

Com a economia mundial entrando em parafuso e as perspectivas bastante pessimistas, o único alento que trazemos é que esta crise teve começo, estamos atravessando o meio e terá fim. Ela vai acabar. Mais do que nunca, isso mostra que devemos estar com os cintos afivelados, tomando sempre medidas de precaução, para que turbulências como esta não nos faça cair. E, nesse contexto, vemos o quanto a educação financeira é importante para a melhoria do processo de tomada de decisões e garantir nossa tranquilidade. Composta de pelo menos cinco pilares, gestão da economia doméstica, do endividamento e dos investimentos, e planejamento tributário e sucessório, um tópico prioritário e transversal se faz destaque: a reserva de emergência (a qual eu prefiro chamar de "reserva de paz").
Dado que estamos falando de uma pandemia que exige o compromisso coletivo para evitar uma disseminação ainda maior, cuja ação demandada é que fiquemos em casa, isto significa que reduziremos drasticamente a circulação pelas ruas e, consequentemente, do dinheiro também. Assim, estamos assistindo hoje e nos próximos dias o esfriamento da atividade, sobretudo de serviços, que movimenta aproximadamente 70% da economia nacional. As pessoas vão comprar menos, vender menos e receberão menos também. Pensando, principalmente, nos autônomos e naqueles que não têm como fazer home office ou teletrabalho, como eles se sustentam em situações como esta? Mesmo com muita criatividade, vocês hão de concordar que o tempo não mostra clareza e as drásticas medidas impactarão os bolsos da maioria e mais daqueles que precisam vender seus produtos e serviços pessoalmente.
Deste modo, quem construiu uma reserva de paz está resguardado, com proteção para passar por este momento, tendo em vista que a previsão de duração é de cerca de quatro a cinco meses, de acordo com muitos analistas e representantes do Estado. Porém, segundo o SPC Brasil, somente 1 em cada 10 brasileiros, poupa. Já escuto as pessoas dizerem: “Mas, Elinne, como eu posso poupar para me proteger na próxima vez?”. Então, as motivações são várias – e elas não podem ser somente negativas, como o caso atual. Podem incluir, além de situações inesperadas de crises, doenças etc., a aposentadoria, a construção de um negócio e uma viagem, por exemplo. Ou seja, seus objetivos de longo, médio e curto prazo. Sei bem da condição difícil que sobrevive a nossa sociedade brasileira, mas ninguém aqui está falando de enriquecer, mas, sim, sobre saber administrar melhor o recurso – na maioria das vezes – escasso. Este é o conceito mais puro de economia.
A sugestão da literatura é construir uma reserva capaz de cobrir pelo menos seis meses de custo fixo mensal seu e dos dependentes, que ela esteja alocada em investimento com baixo risco e cujo resgate possa ser feito de forma imediata (isto é, possua liquidez diária). Este é o primeiro item do check list quando as pessoas estão interessadas em investimentos. Além disso, é comprovado via testes de campo que, através de objetivos financeiros claros, as decisões das pessoas se tornam mais conscientes e responsáveis na direção de atingir aquilo que se deseja, priorizando gastos essenciais e evitando o desperdício. Outra dica valiosa é anotar todos os gastos e receitas (a maioria das pessoas só tem uma entrada – o salário), e conhecer em detalhes o seu perfil de consumidor, principalmente sobre o que mais absorve sua renda pode fazer muita diferença e revelar bastante sobre você. Somente com informação é que será possível tomar medidas para mitigar riscos e ao mesmo tempo criar estratégias em prol da segurança e prosperidade. Por fim, é preciso entender que todo esse fervor é passageiro e, logo, nossas vidas e trabalhos voltarão ao normal. Assim espero.
Elinne Val é economista/UnB, mestranda em economia/Unifal-MG, pesquisadora e planejadora financeira.
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