top of page

Saiba o que fazer mesmo com o futuro sombreado

Novo estudo do Banco Central ajuda a antever o direcionamento da atividade



O Banco Central do Brasil publicou esta semana um estudo e ao mesmo um prognóstico sobre as condições financeiras vigentes e suas expectativas. Muito mais do que só olhar o comportamento da taxa de juros e da inflação, este indicador reflete a situação econômica atual e as perspectivas do mercado em relação ao futuro, captando choques internos e externos, com vistas a traçar os insights sobre o comportamento porvir da atividade econômica, a qual é afetada por dezenas de fatores identificados e monitorados, incluindo variáveis relacionadas com a oferta e/ou demanda de instrumentos financeiros.


Para tanto, o BCB considerou na análise, além da taxa de juros interna, as taxas de juros dos EUA, Reino Unido, Alemanha e Japão, o indicador de risco-país e o VIX (indicador do medo sobre a volatilidade das ações), a taxa de câmbio, cotações do barril do petróleo, índice de commodities e de mercado de capitais. Percebe-se que o Indicador de Condições Financeiras tende a seguir o comportamento da taxa de juros doméstica, mas, em certos momentos, tem impulsos próprios. E são estes os mais interessantes. A partir deles, observa-se claramente a natureza acomodatícia da política monetária mundial recente de redução das taxas de juros, o aumento no preço dos ativos nos mercados de capitais e níveis baixos dos indicadores de risco (gráfico 2).


Fonte: Banco Central do Brasil


Com o estresse causado pelo coronavírus, este cenário mudou completamente e o ICF apresentou salto importante (note o tracejado azul bem rente ao eixo vertical direito. Isto significa que saímos de um panorama de condições financeiras menos restritivas para um contexto altamente contracionista de desestímulo à atividade.


Fonte: Banco Central do Brasil


Este segundo gráfico é, sem dúvidas, o mais curioso de analisar. Perceba que o indicador proposto agora aparece decomposto nas variáveis que o Banco Central considera de maior impacto e que pode predizer melhor o direcionamento da atividade econômica. Observe que nos momentos de condições menos restritivas (como a maior concessão de crédito, por exemplo), em meados de 2010 a aproximadamente final de 2014, depois em 2017, salta-se 2018, e retoma-se em 2019. Observe que em alguns momentos aparecem destacáveis as taxas de juros interna, externa e o nível de risco; em outro, as moedas, o nível de risco e a taxa de juros externa é que se tornam fatores evidenciáveis; e mais recentemente, sobressaíram-se os efeitos das taxas de juros domésticas e internacionais, e com menor efeito, o nível de risco. É interessante ainda ressaltar a última coluna, que puxa para cima do indicador, sobre a qual se manifestam os efeitos do mercado de capitais, moedas e nível de risco, sendo estes os fatores mais sobrepujantes para tornar as condições financeiras mais restritivas.


Trocando em miúdos, isto quer dizer que, se nada for feito, a tendência é que a atividade esbarre em menor acesso à crédito, enfrentando maiores restrições financeiras, em decorrência do agravo do risco percebido pelo mercado, talvez em contraponto, ou quem sabe marcando uma inflexão, relativo à tendência de redução sobre a taxa de juros interna – que buscava estimular a economia - cujo assistimos sucessivos cortes nos últimos meses. Se por um lado o mercado se contraiu inteiramente, por outro, serão necessárias medidas governamentais de estímulos à economia para compensar.


Trazendo para mundo do planejamento financeiro individual, isto significa que muito possivelmente estejamos na hora de nos mexer e revisar a carteira de investimentos no sentido de rebalancear o portfólio com foco na segurança, dada a forte mudança nas expectativas. Assim, se você está muito exposto em renda variável – seguindo estratégias fundamentalistas -e viu sua carteira cair pela metade nas últimas semanas, a minha sugestão é que você adquira fundos de ouro e dólar, por exemplo, para equilibrar os riscos e, ao mesmo, não deixar de capturar os efeitos da recuperação (portanto, não venda agora o que você tem na Bolsa de Valores). Por outro lado, para aqueles mais conservadores, cujos ativos estavam majoritariamente alocados em CDI pós-fixados, talvez seja um bom momento de tirar um pouco e direcionar para ativos de prazos mais longos atrelados à inflação, de modo a proteger você das variações de mercado, pois ainda temos muitas incertezas pela frente. Eu explico o porquê. O meu raciocínio é o seguinte: para quem estava com investimentos vinculados à taxa SELIC, a rentabilidade foi bastante reduzida e ainda há possibilidade de diminuir mais. Por outro lado, sabemos que esta pausa na atividade tem data para acabar, mas não sabemos quando. Logo, alocando parte da sua renda fixa em inflação você garantirá pelo menos os ganhos reais sobre o valor investido.


Elinne Val é economista/UnB, pesquisadora e mestranda em Economia/Unifal-MG e planejadora financeira.

 
 
 

Comments


bottom of page